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  • Como a Espiritualidade Pode Contribuir no Tratamento das Adicções e para uma Vida Melhor?

    Como a Espiritualidade Pode Contribuir no Tratamento das Adicções e para uma Vida Melhor?

    Quando falamos sobre espiritualidade, muitas vezes ela é associada à religião ou religiosidade. Contudo, em muitas culturas contemporâneas, experiências negativas com a religião afastam algumas pessoas do tema. É importante destacar que a espiritualidade é um conceito mais amplo, que vai além dos dogmas religiosos, influenciando profundamente a vida humana e se mostrando essencial na recuperação de adicções e no aprimoramento da qualidade de vida.

    Espiritualidade e Reconexão

    A palavra religião, originada do latim religare, significa “reconexão” e sugere a necessidade de se conectar com o divino por meio de práticas ou normas específicas. Diversos filósofos, como Hegel, René Descartes e David Hume, reconhecem uma predisposição natural no ser humano para acreditar em uma força divina, algo intrínseco à nossa condição.

    Carl Jung, importante pensador do século XX, também explorou a espiritualidade em sua teoria dos arquétipos. Ele descreveu esses arquétipos como padrões universais presentes na psique humana, manifestados em símbolos e imagens recorrentes, como os deuses mitológicos. Para Jung, a falta de contato com essas dimensões espirituais pode levar a complicações psicológicas graves, como uma insaciável necessidade de álcool, drogas ou outros vícios.

    O Papel da Espiritualidade no Tratamento

    O Programa de 12 Passos, amplamente utilizado por grupos como Alcoólicos Anônimos (AA), exemplifica como a espiritualidade pode ser central no tratamento das adicções. Este método, considerado um dos mais eficazes para tratar dependências, encoraja a crença em um “Poder Superior”. Cada participante é livre para definir esse poder conforme sua experiência pessoal, seja como uma entidade divina, a natureza ou o universo.

    Esse contato com o espiritual tem ajudado muitas pessoas a alcançar uma recuperação mais profunda e duradoura. Diversos estudos comprovam que a inclusão da espiritualidade nos tratamentos potencializa os resultados, oferecendo uma abordagem mais completa e humana.

    Benefícios de uma Vida Espiritual

    A espiritualidade transcende a crença religiosa, promovendo valores como amor, compaixão, honestidade, autocuidado e preservação da natureza. Ao cultivar essas virtudes, as pessoas podem construir uma vida mais saudável, equilibrada e significativa.

    Assim, a espiritualidade, associada ao contato com um Ser divino ou à busca de propósitos maiores, pode transformar positivamente a forma como enfrentamos desafios, incluindo as adicções. Mais do que um recurso terapêutico, ela é um caminho para uma existência plena.

    Referências

    • Twelve-Step-Based Programs Effective for Substance Use Problems
    • Carl G. Jung (2016) – O Homem e Seus Símbolos.
    • David Hume (2016) – Diálogos sobre a Religião Natural.
    • Emmanuel Kant (2006) – Crítica da Razão Prática.
    • G. W. F. Hegel (1807) – Fenomenologia do Espírito.
    • JUNAAB (2022) – Alcoólicos Anônimos.

    Tarik Silva

    Psicólogo e arteterapeuta, Pós-graduando em Transtornos Adictivos pela PUC-Rio.

    Acesse: https://terapeutaconecta.com.br/tarik-silva/

  • A Força da Diversidade na Jornada de Recuperação

    A Força da Diversidade na Jornada de Recuperação

    A jornada para superar a dependência química e outras compulsões é profundamente transformadora, mas não precisa ser enfrentada sozinha. Uma comunidade acolhedora e diversa pode fazer toda a diferença nesse caminho. Como diz a frase: “É nossa diversidade que torna a recuperação possível para qualquer um”. Essa ideia reflete a importância de aceitar histórias e origens distintas, criando espaços seguros onde cada indivíduo possa se sentir compreendido e capaz de avançar.

    A dependência química e as compulsões não escolhem vítimas, e a recuperação também não deveria

    A dependência química e outras compulsões afetam pessoas de todas as origens. Seja alguém que viveu uma vida de privilégios ou quem enfrentou dificuldades extremas, como marginalização e encarceramento, todos compartilham a necessidade de apoio para superar seus desafios. Essa realidade exige comunidades de recuperação que sejam inclusivas, capazes de acolher diferentes vivências e oferecer suporte genuíno.

    A diversidade fortalece a recuperação

    Grupos de apoio que abraçam a diversidade têm o poder de transformar a jornada de seus membros. A troca de histórias e experiências únicas promove empatia, compreensão e conexão. Cada relato de superação inspira outros e mostra que, independentemente do passado, a recuperação é possível.

    Essa diversidade de perspectivas também rompe preconceitos e cria um ambiente onde todos se sentem acolhidos, o que é essencial para quem busca transformação.

    Espaços inclusivos promovem pertencimento

    Ambientes que respeitam as diferenças fortalecem o sentimento de pertencimento, um elemento crucial para o sucesso de qualquer processo de recuperação. Ao rejeitar julgamentos e abraçar a individualidade, esses espaços oferecem o suporte necessário para que cada pessoa se sinta à vontade para compartilhar e crescer.

    Além disso, terapias e programas que reconhecem e respeitam a diversidade conseguem criar estratégias adaptadas às necessidades específicas de cada participante, aumentando a eficácia dos tratamentos e promovendo melhores resultados.

    Diversidade: uma força unificadora

    A inclusão é uma ferramenta poderosa que transforma a recuperação em algo acessível e possível para todos. Ao abraçar as diferenças e promover a união, rompemos o isolamento e fortalecemos redes de apoio. A verdadeira força de uma comunidade está em sua capacidade de unir suas partes únicas para o bem comum, criando um ambiente onde todos podem trilhar um caminho de superação e bem-estar.

    Se você ou alguém que conhece está enfrentando a dependência química ou outras compulsões, lembre-se: a recuperação é para todos. Independentemente de quem você seja ou de onde venha, há espaço para você em uma comunidade que acredita na força da diversidade para transformar vidas.

    Terapeuta Alcinir Pessanha

    Alcinir Pessanha é Terapeuta em dependência química – Formando em psicologia

  • Entendendo a Dependência Química: Um Caminho para a Recuperação

    Entendendo a Dependência Química: Um Caminho para a Recuperação

    A dependência química é um tema que merece nossa atenção, pois se configura como um sério problema de saúde pública e uma questão constante na medicina psiquiátrica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o uso abusivo de drogas como uma doença crônica e recorrente, que afeta profundamente a vida dos indivíduos e suas famílias.

    De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a dependência química apresenta uma variedade de sintomas que se manifestam tanto no comportamento quanto na cognição e no aspecto fisiológico das pessoas. Por ser uma condição tão complexa, é fundamental entendê-la como uma doença biopsicossocial, ou seja, que envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

    Para que o tratamento seja eficaz, é essencial que haja intervenções diversificadas, adaptadas às necessidades de cada indivíduo. Neste contexto, é importante destacar dois fatores que podem complicar o processo de recuperação: a baixa adesão ao tratamento e a falta de motivação. A vontade de mudar é um elemento-chave nessa jornada.

    Os dependentes químicos geralmente passam por diferentes estágios na sua trajetória de recuperação, que podem ser resumidos em quatro fases:

    Pré-contemplação: Nesta fase, não há interesse em mudar. O indivíduo pode não perceber que seu comportamento é problemático.

    Contemplação: Aqui, começa a surgir a consciência de que existe um problema. No entanto, a negação ainda é forte, e a pessoa pode hesitar em tomar uma atitude.

    Ação: Nesta etapa, o dependente começa a implementar mudanças efetivas em seu comportamento. Ele se dedica ao processo de recuperação e a adesão ao tratamento, o que frequentemente traz resultados positivos.

    Manutenção: Este é o momento crucial em que a pessoa se empenha em consolidar as mudanças feitas. O foco é melhorar seu comportamento, e isso exige um compromisso contínuo. Sem esse comprometimento, recaídas podem ocorrer.

    A manutenção do progresso é vital para garantir que o dependente químico consiga desfrutar de uma qualidade de vida satisfatória. Assim, o caminho para a recuperação é desafiador, mas possível, e cada passo deve ser valorizado.

    Apoiar o dependente químico em cada uma dessas fases não apenas favorece a recuperação, mas também promove um ambiente mais saudável e compreensivo. Vamos juntos ampliar a conscientização sobre essa questão tão importante e ajudar aqueles que precisam de apoio a encontrar o caminho para uma vida melhor.

    Claudio Bartolette

    Terapeuta em dependência química,

    Conselheiro e coordenador na FEBRATH

  • Dependência tecnológica

    Dependência tecnológica

    A dependência tecnológica é um problema cada vez mais comum na sociedade moderna, e é importante buscar o tratamento adequado para lidar com essa questão. Existem várias abordagens que podem ser úteis para superar a dependência tecnológica, sendo essencial encontrar aquela que melhor se adapta às necessidades individuais de cada pessoa.

    Uma opção de tratamento é a terapia cognitivo-comportamental, que pode ajudar a identificar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para a dependência tecnológica. Com o auxílio de um terapeuta, a pessoa pode desenvolver habilidades para lidar com o uso excessivo da tecnologia e encontrar formas mais saudáveis de gerenciar o estresse e a ansiedade.

    Além disso, a terapia em grupo também pode ser uma opção eficaz, pois permite que as pessoas compartilhem suas experiências e se apoiem mutuamente na busca pela recuperação. O apoio de outros indivíduos que enfrentam desafios semelhantes pode ser muito motivador e encorajador.

    Outra abordagem importante é a criação de um plano de uso saudável da tecnologia, que envolve o estabelecimento de limites claros para o tempo gasto em dispositivos eletrônicos e a busca por atividades alternativas para ocupar o tempo livre. Isso pode incluir hobbies, exercícios físicos, leitura ou outras atividades que proporcionem prazer e satisfação.

    Também é fundamental buscar o apoio de profissionais de saúde mental, como psicólogos ou psiquiatras, que podem oferecer orientação e suporte especializado no tratamento da dependência tecnológica. Vale ressaltar que, em alguns casos, o uso de tratamento medicamentoso pode ser de extrema importância para indivíduos com esse transtorno.

    Em resumo, o tratamento da dependência tecnológica envolve uma abordagem multifacetada que combina terapia, apoio de grupos, criação de um plano de uso saudável da tecnologia e suporte de profissionais de saúde mental. Ao buscar ajuda e comprometer-se com o tratamento, é possível superar a dependência tecnológica e encontrar um equilíbrio saudável no uso da tecnologia.

    Referências:

    Autor do artigo:  Leandro de Andrade Neves

    Leandro de Andrade Neves

    Profissional pós-graduado em Dependência Tecnológica e Terapia Cognitivo-Comportamental.

  • Crise emocional e espiritual

    Crise emocional e espiritual

    CRISE EMOCIONAL E ESPIRITUAL

    É vital entendermos que, embora a doença em si seja uma questão externa que precisa de tratamento, nossas lutas com as doenças mentais e a forma como elas afetam a nossa recuperação são, de fato, “questões internas”. Precisamos fazer essa distinção para assegurar que não deixemos de procurar ajuda adicional, seja por causa do estigma presente em algumas salas de apoio, ou pela confusão sobre a relação entre doença mental e recuperação.

    Às vezes, o que experimentamos é uma consequência de uma condição física: quando estamos nos desintoxicando, por exemplo, as coisas podem ficar muito intensas. A maioria de nós, no início da recuperação, descobre que nos falta um “botão de volume” para as emoções: nosso humor oscila descontroladamente, nossas vidas parecem muito dramáticas e podemos ser assustadoramente impulsivos.

    As coisas se acalmam à medida que nos acostumamos com as nossas vidas e à medida que nossos corpos se adaptam a estarem limpos.

    Às vezes, parecemos insanos, mas precisamos de mais tempo. A “desintoxicação emocional” pode levar muito mais tempo do que a desintoxicação física, e há dias em que isso se torna realmente difícil.

    Podemos não estar convencidos de que irá passar, mas a confiança no programa pode nos dar esperança.

    Quando uma mudança súbita no nosso comportamento é notada por nós ou pelas pessoas que nos querem bem, vale a pena considerar se pode haver forças físicas em ação. O que realmente desejamos é uma cura para nossos sentimentos. Mas o que está acontecendo no nosso interior muitas vezes é o processo que vai nos trazer à luz. Às vezes, é apenas mau tempo em nossas cabeças e simplesmente precisamos esperar que passe.

    Esse tipo de crise pode ser assustador em sua intensidade, e às vezes, parece que só podemos distingui-la de outros tipos de dificuldades em retrospecto. Mesmo sendo intensa, ela é temporária, e aliviada pela superação ou pela vontade obstinada de persistir até a crise passar. “Passamos por uma experiência espiritual vital e somos modificados”, diz o Texto Básico. Podemos ser devolvidos à sanidade e vivermos vidas felizes e produtivas.

    Podemos precisar de novas ferramentas para continuar a construir a nossa casa. Isso não significa que estamos abandonando o trabalho que fizemos ou traindo nosso compromisso se, às vezes, precisarmos procurá-las em outro lugar.

    Alguns de nossos membros mais experientes compartilham que os momentos de mais profunda insanidade ocorrem quando nosso interior não corresponde ao nosso exterior; quando estamos fazendo coisas que vão contra nossas crenças, quando estamos, de um jeito ou de outro, vivendo uma mentira ou quando estamos em negação do que realmente está acontecendo ao nosso redor. A desconexão entre o que queremos, o que acreditamos e o que estamos fazendo é suficiente para fazer qualquer um se sentir insano e pode ser uma força poderosa para a recaída. Quando dizemos a alguém de confiança o que realmente está acontecendo, podemos começar a sentir um pouco de esperança novamente.

    A PRÁTICA DA RENDIÇÃO POR TODA A VIDA
    Nossa compreensão de rendição pode mudar ao longo do tempo, mas nossa necessidade dela não. No começo, a rendição pode ser somente uma questão de não usar drogas. Com o passar do tempo, começamos a ver outras formas de manifestação da rendição em nossas vidas. Tornamo-nos dispostos a entregar outros comportamentos, às vezes, um por um. Passamos a entender que usar qualquer substância ou comportamento é apenas um sintoma de nosso problema, que é de natureza espiritual.

    Gradualmente, começamos a abrir mão das coisas que nos levam a agir: negação, raiva, ressentimento, necessidade de ter razão, sentimentos de superioridade ou inferioridade, vergonha, remorso e medo.

    À medida que nossa compreensão do Primeiro Passo aumenta, rendemo-nos mais profundamente. Nossa confiança cresce e tornamo-nos um pouco mais dispostos a abrir mão desses padrões de pensamento e sentimento. Podemos perceber mais áreas de nossas vidas em que ainda nos apegamos à ilusão do controle. Raramente a rendição parece atrativa no começo, mas leva cada vez menos tempo para percebermos quando e como estamos agindo de maneira ineficaz. No início, só conseguimos abrir mão quando estávamos completamente derrotados, mas essa tolerância ao sofrimento diminui conforme nos recuperamos.

    À medida que adquirimos mais experiência com a esperança e a melhora que surgem através da rendição, podemos reconhecê-la como uma maneira de nos reconectar com a realidade. A transição do pensamento de que nos rendemos à nossa doença para a percepção de que podemos nos render à nossa recuperação é, por si só, um despertar espiritual.

    Mudar nossa percepção é como enxergar o mundo com novos olhos. A rendição é uma mudança de perspectiva. A honestidade pode transformar nossa visão: ela nos abre para a verdade.

    Nossa fé em um Poder Superior cresce através de nossa experiência, oferecendo a oportunidade de vermos nossas vidas por uma perspectiva diferente. À medida que ganhamos experiência, não nos sentimos mais tão vulneráveis por agir de acordo com nossas crenças. Começamos a confiar que o resultado de abrir mão não será uma calamidade. O resultado de uma série de despertares espirituais é uma fé sólida.

    Entretanto, o medo é um sentimento natural. A questão é como lidamos com ele. Os Passos Três e Onze nos permitem convidar um Poder Superior amoroso a participar de nossas decisões, e o Passo Dez nos ajuda a examinar a nós mesmos enquanto seguimos em frente. Frequentemente, somos os últimos a reconhecer nosso próprio crescimento. Quando vemos outros membros se recuperando e suas vidas melhorando, somos lembrados de que o mesmo está acontecendo conosco.

    À medida que nossa consciência se aprofunda, continuamos a descobrir áreas de nossas vidas que precisam de trabalho. À medida que mudamos, ajustamo-nos. E, enquanto nos ajustamos, nosso equilíbrio se altera e mudamos um pouco mais. A sensação de que sabemos tudo é frequentemente seguida pela percepção de que não sabemos nada. Esse sentimento de impotência pode ser valioso, pois nos permite aprender mais sobre rendição.

    Uma das dádivas da recuperação é o retorno de nosso senso de humor. Ele vai e vem, claro, mas quando o perdemos, é um ótimo sinal de que podemos nos beneficiar de uma mudança de perspectiva.

    O humor que encontramos nas histórias uns dos outros é uma maneira de sabermos que estamos no lugar certo. O que nos faz rir tende a mudar à medida que crescemos. O sofrimento dos outros já não nos distrai tanto e somos mais capazes de ver o lado mais leve das situações difíceis. Qual seria a sua, hoje?

    (Baseado no livro “Viver Limpo: A Jornada Continua”, NA)

     

     Autor do artigo: Alcinir Pessanha

    Alcinir Pessanha é Terapeuta e Conselheiro dependência química.

    Site: https://terapeutaconecta.com.br/