Categoria: tratamento

  • Dependência Química e Psicanálise: Uma Análise Profunda

    Dependência Química e Psicanálise: Uma Análise Profunda

    Dependência Química e Psicanálise: Uma Análise Profunda

    Por Jairo Telles – Terapeuta e Conselheiro Pleno em dependência química

    Descubra a visão da psicanálise sobre a dependência química, explorando o desejo, a falta, o gozo e a repetição. Entenda como a análise pode auxiliar no tratamento.

    A dependência química e a psicanálise se encontram num ponto bastante profundo: o campo do desejo, da falta, do gozo e da repetição. A psicanálise não trata a dependência como uma simples falha moral ou um problema de autocontrole, mas como um sintoma — uma formação do inconsciente que carrega um sentido, uma tentativa de lidar com o sofrimento psíquico.

    Pontos de Encontro entre Psicanálise e Dependência Química

    1. O Sujeito e o Sintoma Para a psicanálise, especialmente na linha freudiana e lacaniana, a dependência química pode ser vista como um sintoma que diz algo do sujeito. O uso de substâncias não é apenas uma busca de prazer, mas uma forma de tentar tamponar um vazio, uma angústia, ou dar conta de algo que escapa à simbolização. A psicanálise busca entender a singularidade desse sintoma em cada indivíduo.

    2. A Repetição e o Circuito do Gozo O uso compulsivo de drogas está ligado ao conceito de repetição. Lacan fala do “gozo” como aquilo que vai além do princípio do prazer. Algo que machuca, mas que o sujeito busca, mesmo assim. A droga pode ocupar esse lugar de “objeto de gozo”, repetido para tentar calar a angústia, mas que não cessa de falhar, forçando o ciclo a recomeçar. A psicanálise investiga as raízes dessa repetição.

    3. O Papel do Outro Na dependência, muitas vezes há uma relação com um “Outro” (a droga, mas também figuras simbólicas, como pais, instituições) que estrutura a posição do sujeito. A psicanálise escuta esse laço — como o sujeito se organiza diante do desejo do Outro, da lei, da falta. Compreender essa dinâmica é crucial no processo de tratamento.

    4. Transferência e Tratamento Psicanalítico Na clínica psicanalítica, não se trata de “curar” o dependente químico, mas de possibilitar que ele fale — e, a partir da escuta, desloque o lugar da droga em sua vida. A relação transferencial (entre analista e analisando) pode ser o espaço onde o sujeito começa a reescrever sua história, simbolizar o que antes só era vivido como pura dor ou urgência. O tratamento através da fala e da escuta analítica oferece uma nova perspectiva para lidar com a dependência química.

  • Alcoolismo e a Esperança

    Alcoolismo e a Esperança

    Alcoolismo e a Esperança

    por Euzeni de Matos – Psicanalista Clínica e Psicopedagoga.

    O alcoolismo é uma jornada sombria, um labirinto onde a busca por alívio se transforma em prisão. No início, o álcool pode parecer um amigo, um confidente que silencia as dores da alma. Mas, como um vampiro sedutor, ele suga a vitalidade, a alegria, a própria essência de quem se entrega a ele.

    A cada gole, um véu se ergue, distorcendo a realidade, anestesiando a consciência. Aos poucos, o controle escorre pelos dedos, a liberdade se esvai, e o indivíduo se torna prisioneiro de um ciclo vicioso. A dependência se instala, tecendo teias invisíveis que aprisionam o corpo e a mente.

    O alcoolismo não escolhe vítimas. Ele se infiltra em lares, destrói famílias, corrói relacionamentos. A dor se espalha como uma sombra, atingindo aqueles que amam e se preocupam. A impotência, a angústia e a culpa se tornam companheiras constantes.

    Mas, em meio à escuridão, há um fio de esperança. A recuperação é possível, um caminho árduo, mas libertador. Exige coragem para enfrentar os demônios internos, para reconhecer a vulnerabilidade e buscar ajuda. O apoio de profissionais, amigos e familiares é essencial nessa jornada de renascimento.

    A sobriedade não é apenas a ausência do álcool, mas a redescoberta de si mesmo, a reconstrução da vida. É um processo de cura, de aprendizado, de crescimento. A cada dia, a luz da esperança se torna mais forte, dissipando as sombras do passado.

    O alcoolismo é uma doença, não uma fraqueza. É uma batalha que exige força, resiliência e compaixão. Que possamos estender a mão àqueles que lutam contra essa doença, oferecendo apoio, compreensão e esperança.

  • Alterações na Personalidade dos Dependentes Químicos

    Alterações na Personalidade dos Dependentes Químicos

    Alterações na Personalidade dos Dependentes Químicos

    Por Selma Binotti – Psicóloga

    O uso frequente de substâncias químicas traz consigo “padrões de comportamento” que alteram a percepção da realidade do indivíduo. Embora a personalidade de cada um permaneça única, alguns comportamentos são comuns entre os dependentes químicos.

    Alterações de personalidade comuns na dependência química:

    • Dificuldade de enfrentar sentimentos: O dependente químico frequentemente evita o contato com seus sentimentos, o que causa desconforto emocional significativo.
    • Distorção da realidade: O indivíduo tende a justificar seus momentos de excesso, atribuindo a causa a comportamentos de outras pessoas, em vez de reconhecer suas próprias ações e responsabilidades.
    • Intolerância à dor: A pessoa pode desenvolver baixa tolerância ao sofrimento, frustrações e desilusões, reagindo de forma descontrolada a situações adversas.
    • Manipulação: A manipulação se torna uma habilidade para conseguir o que deseja, principalmente a substância química, e pode vir acompanhada de negação, ameaças, barganhas e chantagem.
    • Satisfação imediata: A busca por satisfação imediata é uma característica comum, gerando angústia e ansiedade quando os desejos não são atendidos prontamente.
    • Inadequação: Dificuldades nas relações familiares, sociais e profissionais podem levar ao isolamento social e ao mal-estar em relação às outras pessoas.
    • Carência afetiva: O dependente químico pode apresentar uma necessidade constante de aceitação, hipersensibilidade a críticas, baixa autoconfiança, dependência afetiva e vitimização.
    • Onipotência: A sensação de invulnerabilidade e imortalidade pode levar o indivíduo a se expor a situações de risco, como overdose, brigas, agressões e problemas de saúde, que podem ser fatais.
    • Infantilidade: O uso de substâncias químicas pode causar um estacionamento emocional, distanciando a pessoa da realidade presente e dificultando o amadurecimento.
    • Compulsão: O desejo incontrolável de usar a substância aumenta a tolerância às drogas, exigindo doses cada vez maiores.
    • Depressão: A depressão, que causa alterações cerebrais e sentimentos negativos, pode dominar os pensamentos, levando o dependente químico a buscar alívio na droga.
    • Negação: A negação do problema é um obstáculo significativo na recuperação, presente tanto no usuário quanto em familiares, amigos e no ambiente de trabalho, que podem se tornar codependentes e encobrir os comportamentos inadequados.

    Recuperação e mudança de vida

    Apesar desses desafios, a retomada e a mudança de vida são possíveis. Com o apoio de profissionais capacitados e o desenvolvimento de novas habilidades sociais, o dependente químico pode alcançar uma boa qualidade de vida e encontrar novas perspectivas de sobriedade.

    O caminho da recuperação envolve muitos desafios, mas os ganhos em qualidade de vida são imensamente maiores.

  • Trabalho e Recuperação: Um Novo Começo é Possível!

    Trabalho e Recuperação: Um Novo Começo é Possível!

    Trabalho e Recuperação: Um Novo Começo é Possível!

    Você sabia que a recuperação da dependência química e o retorno ao mercado de trabalho estão intrinsecamente ligados? 💼✨

    Muitas empresas ainda têm receio de contratar profissionais que passaram por um processo de recuperação, seja por estigma ou falta de informação. Mas a verdade é que a recuperação traz consigo:

    • Resiliência: Superar a dependência química exige uma força e determinação admiráveis.
    • Disciplina: O tratamento e a manutenção da sobriedade desenvolvem disciplina e foco.
    • Comprometimento: A pessoa em recuperação aprende a valorizar suas responsabilidades e a se comprometer com seus objetivos.
    • Gratidão e Lealdade: A oportunidade de um novo começo é vista com enorme gratidão, o que se traduz em lealdade à empresa.

    Como as empresas veem o profissional em recuperação?

    A percepção das empresas em relação aos profissionais em recuperação está mudando, mas ainda enfrenta desafios. Embora muitos empregadores reconheçam o potencial de indivíduos que superaram a dependência, o estigma social e os receios relacionados à confiabilidade e produtividade ainda persistem. No entanto, há uma crescente conscientização de que a recuperação bem-sucedida pode resultar em funcionários altamente motivados e dedicados.

    Existem oportunidades para um novo recomeço?

    Sim! Existem oportunidades crescentes para profissionais em recuperação no mercado de trabalho. Programas de reinserção profissional, iniciativas de empresas socialmente responsáveis e o aumento da conscientização sobre os benefícios da contratação de pessoas em recuperação estão abrindo portas para um novo começo.

    O que pode ser feito para dar mais incentivo?

    Para incentivar a reinserção de dependentes químicos em recuperação no mercado de trabalho, podem ser adotadas as seguintes medidas:

    • Programas de inclusão: Criação de programas específicos para a reinserção de profissionais em recuperação, com acompanhamento e suporte.
    • Quebrar o estigma: Promoção da conscientização e do diálogo aberto sobre o tema, desmistificando preconceitos.
    • Valorizar as habilidades: Foco nas competências e no potencial do profissional, e não em seu passado.
    • Oferecer oportunidades: Abertura de portas para entrevistas e processos seletivos, dando o voto de confiança necessário.
    • Incentivos fiscais: Implementação de incentivos fiscais para empresas que contratam profissionais em recuperação.
    • Parcerias com instituições: Estabelecimento de parcerias entre empresas, centros de tratamento e organizações sociais para facilitar a reinserção.
    • Capacitação profissional: Oferecimento de cursos e treinamentos para aprimorar as habilidades dos profissionais em recuperação e aumentar sua empregabilidade.

    Projetos e iniciativas

    Existem diversos projetos e iniciativas que buscam facilitar a reinserção de dependentes químicos em recuperação no mercado de trabalho. Segue alguns exemplos:

    • Programas de Reintegração Profissional: Muitos centros de tratamento e organizações oferecem programas de reintegração que incluem orientação profissional, elaboração de currículos e encaminhamento para vagas de emprego.
    • Recuperando Vidas: Projeto do Governo do Estado de São Paulo que oferece tratamento para dependentes químicos e os encaminha para o mercado de trabalho.
    • Emprega Rede: A Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos (SDSTJDH) do Rio Grande do Sul, em parceria com o SENAC-RS, oferece o projeto Emprega Rede, que visa qualificar e inserir dependentes químicos em recuperação no mercado de trabalho.

    Juntos, podemos construir um mercado de trabalho mais inclusivo e oferecer oportunidades para que todos possam recomeçar. 🙏

    Referências:

  • O Vazio que Ecoa: Kurt Cobain e a Dor da Dependência Química

    O Vazio que Ecoa: Kurt Cobain e a Dor da Dependência Química

    O Vazio que Ecoa: Kurt Cobain e a Dor da Dependência Química

    Um grito de angústia que ecoa na alma de muitos

    Kurt Cobain, com sua voz rouca e letras viscerais, conseguiu dar voz a um sofrimento que muitos sentem, mas não conseguem expressar. Em “Something in the Way”, ele revela uma dor silenciosa, uma sensação de vazio que, apesar da fama e do sucesso, o acompanhava constantemente. A melodia sombria da música transmite essa angústia, refletindo a luta interna de Kurt contra o vazio existencial e as dificuldades pessoais. Para muitos dependentes químicos, esse sentimento de “nada” é uma realidade constante. A substância não preenche o vazio interior; pelo contrário, agrava a dor, criando um ciclo vicioso e difícil de quebrar.

    O vazio existencial: um companheiro da dependência

    Esse vazio existencial é uma das características mais comuns entre aqueles que enfrentam a dependência química. A busca por alívio nas drogas é, muitas vezes, uma tentativa de preencher uma lacuna emocional profunda, uma sensação de desconexão do mundo e de si mesmo. Segundo o estudo “Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios em uma comunidade terapêutica”, essa sensação de vazio está intimamente ligada ao sofrimento psíquico, onde o uso das substâncias busca aliviar, ainda que temporariamente, a dor emocional. No entanto, o vazio nunca é realmente preenchido, e a dependência se torna uma tentativa de controlar algo que está além do alcance.

    Kurt Cobain: um reflexo da dor invisível

    A dor interna de Kurt e o vazio que ele retratou em sua música são paralelos à experiência de muitos dependentes químicos que, ao enfrentarem a perda de sentido e a desconexão com o mundo, recorrem às substâncias como uma forma de fuga. Como destaca o artigo “A abordagem dos termos dependência química, toxicomania e drogadição no campo da Psicologia brasileira”, a forma como a dependência é entendida pode influenciar diretamente a abordagem terapêutica, enfatizando a necessidade de tratamentos que não se limitem ao físico, mas que também abordem o sofrimento emocional e existencial.

    O legado de Kurt Cobain e sua luta visível contra a dependência servem como um reflexo do sofrimento que muitos enfrentam, mas que nem sempre é visto. A perda precoce de Kurt nos lembra da urgência de falar sobre saúde mental e dependência química, oferecendo apoio para aqueles que estão tentando preencher um vazio interno com algo que só agrava a dor. É necessário olhar para esse vazio com empatia e compreensão, ajudando aqueles que enfrentam essa batalha a encontrar novos significados e propósitos, sem recorrer às substâncias que apenas perpetuam o sofrimento.

    A importância do diálogo e do apoio

    Vamos continuar a conversar sobre saúde mental, oferecendo redes de apoio a quem precisa, e reconhecendo que, por trás da dependência, há uma dor profunda que precisa ser acolhida. Se você ou alguém que você conhece está lutando contra a dependência química, saiba que você não está sozinho. A Terapeuta Conecta oferece uma rede de terapeutas especializados que podem te ajudar a encontrar um caminho para a recuperação e para uma vida com mais significado.